O principal objetivo deste blog é oferecer informações e notícias relacionadas com a Antropologia Biológica e Cultural e a Arqueologia.

EVOLUÇÃO DA HUMANIDADE: Descoberta histórica


O Instituto de Estudos Arqueológicos de Tel-Aviv, em Israel, divulgou, ontem, a descoberta de restos de Homo sapiens de 400 mil anos. O achado pode representar uma mudança nas teorias de evolução da humanidade, uma vez que os restos conhecidos até agora datavam de 200 mil anos atrás.

O responsável pelas escavações, Avi Gopher, declarou que foram encontrados oito dentes numa caverna a leste de Tel-Aviv. A análise de estalactites e estalagmites demonstraram que a caverna Qessem já tinha sido usada há 400 mil anos. Em 2006, a equipe encontrou o primeiro dente, mas esperou até achar outros para fazer os testes necessários.

– Até o momento, os traços mais antigos de Homo sapiens estavam no leste da África, datando de 200 mil anos – disse Gopher.

Descobertas 12 novas esfinges no Egito...


Uma equipe de arqueólogos descobriu 12 novas esfinges (estátuas com corpo de leão e cabeça humana ou de carneiro) na antiga avenida que unia os templos faraônicos de Luxor e Karnak, 600 quilômetros ao sul do Cairo.

Segundo comunicado do Conselho Supremo de Antiguidades, as esculturas datam da época do último rei da 30ª dinastia (343-380 a.C.). A avenida, ladeada por uma dupla fila de esfinges que representavam o deus Amon, tem cerca de 2.700 metros de comprimento e 70 de largura e foi construída por Amenhotep III (1372-1410 a.C.) e restaurada, posteriormente, por Nectanebo I (380-362 a.C.).

Por outro lado, os arqueólogos descobriram também um novo caminho que une essa avenida com o rio Nilo. A nota explica que, até o momento, só foram desenterrados 20 metros dos 600 que compõem o novo caminho, e que as escavações continuam para descobrir o resto do trajeto, construído com pedra de arenito - sinal da importância que tinha em seu tempo, esclarece o comunicado.

O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, Zahi Hawas, afirmou que o caminho achado era usado para transferir em procissão a imagem do deus Amon em sua viagem anual ao templo de Luxor, onde se encontrava com a imagem de sua mulher, Mut.

Além disso, a via era utilizada pelo rei quando participava de cerimônias religiosas, de acordo com Hawas.[Fonte: Estadão]

Fósseis em âmbar na Índia sugerem nova versão para passado geológico


Abelhas, cupins, aranhas e moscas descobertos recentemente em um depósito de âmbar desafiam a suposição de que a Índia era uma ilha-continente isolada no início do Eoceno, há cerca de 50 milhões de anos. O estudo foi publicado na edição online da revista Proceedings of National Academy of Sciences (PNAS).

Artrópodes encontrados no depósito de Cambaia, oeste indiano, não são exclusivos como se poderia esperar de uma ilha, mas têm relações evolucionárias próximas com fósseis de outros continentes. O âmbar é também a mais antiga evidência de uma floresta tropical latifoliada na Ásia.
"Sabemos que a Índia já foi isolada, mas quando e por quanto tempo exatamente ainda é incerto", afirma David Grimaldi, curador da Divisão de Zoologia de Invertebrados do Museu Americano de História Natural. "A evidência biológica no depósito de âmbar mostra que havia alguma conexão biótica [elementos causados por organismos em um ecossistema que condicionam as populações que o formam] entre as espécies", explica.
"O âmbar, semelhante a uma foto antiga, revela como era a vida na Índia antes da colisão com o continente asiático", diz Jes Rust, professor de Paleontologia de Invertebrados na Universidade de Bonn, na Alemanha. "Os insetos capturados na resina fóssil lançam uma nova luz sobre a história do subcontinente."
O registro de âmbar em árvores latifoliadas (com folhas largas e grandes) é raro até o período geológico Terciário, ou seja, depois que os dinossauros foram extintos. Foi nessa época que as plantas angiospermas (que produzem frutos) superaram as coníferas (gimnospermas) e começaram a dominar as florestas, desenvolvendo o ecossistema que até hoje atravessa a Linha do Equador. Esse novo âmbar, junto com o da Colômbia - que tem 10 milhões de anos a mais -, indica que as florestas tropicais são mais antigas do que se pensava.
No trabalho, Grimaldi, Rust e seus colegas descrevem o âmbar de Cambaia como a evidência mais antiga de florestas tropicais na Ásia. O âmbar tem sido ligado quimicamente à Dipterocarpaceae, uma família de árvores que atualmente representa 80% da cobertura florestal do Sudeste Asiático. Madeira fossilizada dessa família também foi encontrada, tornando esse depósito o registro mais antigo dessas plantas na Índia e mostrando que essa família tem quase o dobro da idade que se acreditava. É mais provável que a espécie tenha se originado quando porções do supercontinente do sul Gonduana ainda estavam ligadas.
Também foram descritas na pesquisa 100 espécies de artrópodes, que representam 55 famílias e 14 ordens. Algumas dessas espécies são consideradas parentes, como abelhas produtoras de mel e abelhas sem ferrão, cupins e formigas, sugerindo que esses grupos se espalharam durante o Eoceno ou pouco antes dele.
E muitos dos fósseis de Cambaia têm parentes em outros continentes, embora não onde isso seria esperado. Em vez de encontrar laços evolutivos entre África, Madagascar e Índia como parte do supercontinente Gonduana, os pesquisadores acharam parentes próximos no norte da Europa, Ásia, Austrália e Américas.
"O que descobrimos indica que a Índia não estava completamente isolada, embora o depósito de Cambaia pertença a uma época que antecede a união da Índia à Ásia", diz Michael Engel, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária e curador de entomologia da Universidade do Kansas, nos EUA. "Pode ter havido algumas ligações", completa.
O clima também pode ter desempenhado um importante papel na fauna encontrada no âmbar. O início do Eoceno foi uma época de grande calor: os trópicos atingiram os polos. Os pesquisadores preveem que o clima possa ter tido um efeito sobre a distribuição dos artrópodes. "As relações de diversidade e evolução dos depósitos de Cambaia mostram os efeitos profundos do clima sobre esses grupos", avalia Engel. [Fonte: Estadão]


Vestígios de 6.500 anos em Joinville, SC, Brasil.

 Peças encontradas em morro sugerem que Joinville foi habitada por pré-sambaquianos

O topo de um morro destinado à ampliação do aterro sanitário de Joinville, na zona Norte, guarda um achado arqueológico de 6,5 mil anos que pode ajudar a explicar a transição dos povos caçadores-coletores do interior do Estado para os sambaquianos do litoral. A descoberta é de pesquisadores da Unisul de Florianópolis e coordenada pelo geólogo Marco De Masi. Responsável por outras descobertas – como a de 96 ossadas indígenas na BR-101, em Jaguaruna, no Sul do Estado –, o pesquisador foi contratado pela Ambiental, empresa que gerencia o aterro, para acompanhar possíveis achados arqueológicos. O serviço é necessário para a emissão de licenças ambientais. Após escavações, em setembro, Marco e um auxiliar encontraram pistas de vida ancestral na área.

Primeiro, foram lascas de pedra, o que levou a acreditar que o local pudesse ser um acampamento de caçadores-coletores. Em seguida, desenterraram um polidor de machadinhas, um quebra-coquinho, um macerador e pontas de flechas. Só na superfície do morro, foram achados 640 artefatos. Com menos de 10% de área escavada, juntaram 1,2 mil. Eram os indícios de que uma comunidade viveu no local, segundo o geólogo. Peças com restos de carvão foram enviadas a um centro de estudos, o Beta Analytic Inc., em Miami, nos Estados Unidos, para identificar os materiais. A resposta, ainda em setembro, trouxe a surpresa. As peças eram anteriores aos sambaquianos, que apareceram na região há 5,1 mil anos e, no Estado, há 6,2 mil anos.

Há indícios de que o mar era mais avançado na época (inundava boa parte da zona Norte, por exemplo) e que esses caçadores-coletores viviam perto da orla, mas ainda com o estilo de vida do interior. “Isso permite interpretar que mais tarde esses grupos podem se tornar os sambaquianos [que se alimentam do mar, habitam áreas alagáveis e têm outros hábitos]”, analisa Marco.

É difícil dizer de que grupo são esses povos, segundo o geólogo. A possibilidade é de que sejam dos gês, os mais antigos do Sul. Os guaranis vieram mais tarde. Todo o material está sendo catalogado e armazenado no Laboratório de Arqueologia da Unisul, com aval do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para dar origem a estudos mais detalhados.

As escavações podem durar de seis meses a um ano e devem virar local de estudo para universitários.

Idade dos fósseis:
É calculada pelo carbono-14, átomo presente na matéria orgânica (nosso corpo, plantas, carvão). Como sua quantidade diminui muito lentamente com o tempo, é possível calcular a idade de fósseis de até 70 mil anos com precisão.

Veja: 35 mil anos de história na américas 

Veja: Como é feito o estudo

[Fonte: AN.com.br]

Textos de Antropologia - Requisito de leitura.

Texto 01


Antropologia: Ciência Recente

“A visão funcional da cultura repousa no principio de que em qualquer tipo de civilização, cada costume, objeto material, idéia ou crença, satisfaz alguma função vital, assim como certas tarefas realizadas representam uma parte indispensável para todo o trabalho”. (B.Malinowski)
Entre as diversas ciências humanas que emergiram da Revolução Intelectual dos séculos XVIII-XIX, a antropologia foi a mais tardia de todas. A sua motivação inicial, o elemento deflagrador para que ela se tornasse uma ciência, decorreu do impacto do pensamento evolucionista e darwinista no século XIX.
Ao colocar-se em descrença a explicação bíblica exposta no Gênese, pela qual o homem nasceu de uma ação divina imediata, o Ato da Criação, abriu-se o caminho para que cientistas e demais pesquisadores saíssem a campo, pelo mundo todo, atrás do chamado elo perdido, isto é, do antropóide ou hominídeo, o ser meio animal, meio humano, que hipoteticamente teria ligado, em algum tempo remotíssimo, o mundo natural ao mundo humano, a ponte sobre o riacho Rubicon que aproximara, num lugar incerto e obscuro do tempo, o símio do homem. Abandonavam desta maneira a crença na divindade do ser humano, implícita a qualquer pensamento religioso, para, aparelhados nas ciências físicas e exatas, mergulharam atrás das suas raízes naturais do homem, entendendo-o fruto da Natureza e não de Deus.
Simultaneamente a esta verdadeira caçada às formas pré-humanas, atrás dos vestígios últimos dos primatas, os interesses dos investigadores ampliaram-se para o estudo das sociedades ditas primitivas, acreditando que elas também mereciam serem submetidas ao crivo da racionalidade ocidental. Desta forma, a antropologia começou a alargar-se, procurando determinar qual era a organização social das tribos e qual era o sistema de parentesco delas, como realizavam suas cerimônias de iniciação e de matrimônio, como procediam nos seus ritos religiosos e nos de sepultamento, e de que maneira viam os céus e temiam os demônios.
A Antropologia é, pois, o estudo do homem. Se bem que, como observou Malinowski, existam outras ciências que igualmente o fazem, tais como a sociologia, a psicologia, a historia, a leis, a economia, e a ciências políticas, ela, a antropologia, se distingue por incluir na sua área de estudo as questões de ordem físicas, anatômicas e estruturais do homem, atendidas pela chamada de Antropologia Física, que tratado o homem como um organismo físico, seguiu as pistas da sua evolução a partir das formas mais primitivas da vida.


Antropologia física:
Os antropólogos físicos, atuando quase que como arqueólogos ou anatomistas, analisam o material fóssil esquelético das formas que estão dentro da descendência humana (múmias indígenas dos maias, astecas e incas, por exemplo) ou nas suas proximidades. Os resultados disso são classificados , graças à técnica do Carbono 14, também chamada como o Relógio do Carbono, numa certa seqüência de tempo, comparando anatomicamente suas descobertas com a estrutura física dos primatas atualmente existentes. O resultado chocou-se com a antiga classificação feita pelo arcebispo de Ussher, que datou a origem do homem no ano 4004 a .C., pois os antropólogos fizeram recuar o seu aparecimento para um milhão de anos atrás! Além disso tratam de observar e registrar cuidadosamente o comportamento dos símios, macacos e outros primatas dentro dos seus ambientes naturais e sob condições controladas de laboratório. Além disso, estudam no homem moderno suas diferenças epidérmicas, a cor dos olhos, a textura do cabelo, o tipo de sangue, a constituição do corpo (altura, envergadura) bem como outros fatores que caracterizam a espécie.


Antropologia cultural:
Outro ramo da antropologia que ganhou grande estatura, e uma projeção que saltou para bem além das suas fronteiras de investigação, foi o da antropologia cultural. Isto se deveu pela impressionante ampliação do seu campo de ação, englobando a lingüística, a arqueologia e a etnologia (descrição ou crônica da cultura de uma tribo ou povo), estudos esses que se referem ao comportamento do homem, particularmente no que diz respeito às atitudes padronizadas, rotineiras, que genericamente chama-se de cultura. Entenda-se que para o antropólogo a palavra cultura adquire uma outra dimensão do que a que convencionalmente entendida. Não se trata de identificá-la, a cultura, com erudição ou sofisticação, como é comum associar-se essa palavra, mas sim de utilizá-la para definir tudo aquilo que o homem faz, pois, para o antropólogo, cultura é forma de vida de um grupo de pessoas, uma configuração dos comportamentos aprendidos, aquilo que é transmitido de geração em geração por meio da língua falada e da simples imitação. Não se trata de um comportamento instintivo, mas algo que resulta de mecanismos comportamentais introjetados pelo indivíduo.


Áreas de interesse:
Além da religião, fazem parte da cultura os modos de alimentar-se (“O cru, o assado e o cozido”, brilhante ensaio de Lévi-Strauss, mostra a variação dos procedimentos das tribos com o alimento), de vestir-se, de combater ou de seguir os rituais religiosos. Os antropólogos que seguem por esta senda podem até ser divididos naqueles que se interessam em procurar aquilo que é comum entre as várias culturas espalhadas pelo mundo, e aqueles outros que têm o seu interesse voltado exclusivamente para o que é original, singular, único, naquela cultura. Seus olhos e ouvidos voltam-se então para a magia, para os mistérios anímicos, os medos, aos fantasmas, a linguagem dos sonhos, para a mitologia e as concepções cósmicas, para o significado dos totens, para o sistema de parentesco e os procedimentos nupciais, para as tatuagem e automutilações, os sacrifícios, tudo isto entendido pelos antropólogos como “linguagens” especiais passíveis de serem estudadas, compreendidas e catalogadas.





Texto 2

Conceituação de Antropologia

Antropologia (cuja origem etimológica deriva do grego άνθρωπος [ánthropos], humano/pessoa e λόγος [lógos], estudo) é a disciplina centralizada no estudo do homem. Como ciência da humanidade, ela se preocupa em conhecer cientificamente o ser humano em sua totalidade, o que lhe confere um tríplice aspecto:
a.) Ciência Social - propõe conhecer o homem enquanto elemento integrante de grupos organizados.
b.) Ciência Humana - volta-se especificamente para o homem como um todo: sua história, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem etc.
c.) Ciência Natural - interessa-se pelo conhecimento psicossomático do homem e sua evolução.
Relaciona-se, assim, com as chamadas ciências biológicas e culturais; as primeiras visando o ser físico e as segundas o ser cultural.
Hoebel e Frost definem a antropologia como "a ciência da humanidade e da cultura. Como tal, é uma ciência superior social e comportamental, e mais, na sua relação com as artes e no empenho do antropólogo de sentir e comunicar o modo de viver total de povos específicos, é também uma disciplina humanística".
A Antropologia tem uma dimensão biológica, enquanto antropologia física; uma dimensão sociocultural, enquanto antropologia social e/ou antropologia cultural; e uma dimensão filosófica, enquanto antropologia filosófica, ou seja, quando se empenha em responder à indagação: o que é o homem?
Apesar da diversidade dos seus campos de interesse, constitui-se em uma ciência polarizada, que necessita da colaboração de outras áreas do saber, mas conserva sua unidade, uma vez que seu foco de interesse é o homem e a cultura.
Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características humanas físicas. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do ser vivo.
A Antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o que torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação mais ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu comportamento. O seu interesse está no homem como um todo - ser biológico e ser cultural -, preocupando-se em revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca, também, a compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da vida social.


Objeto de estudo:
A Antropologia como ciência do biológico e do cultural tem seu objeto de estudo definido: o homem e suas obras.


Objetivo da Antropologia:
Hoebel e Frost afirmam que a "antropologia fixa como seu objetivo o estudo da humanidade como um todo..." e nenhuma outra ciência pesquisa sistematicamente todas as manifestações do ser humano e da atividade humana de maneira tão unificada. É um objetivo extremamente amplo, visando o homem como expressão global - biopsicultural -, isto é, o homem como ser biológico pensante, produtor de culturas e participante da sociedade, tentando chegar, assim, à compreensão da existência humana.


Divisões e campo da Antropologia:
A Antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as populações socialmente organizadas. Divide-se em dois grandes campos de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: Antropologia Física ou Biológica e Antropologia Cultural. Assim fazer que o homem busque na sua origem a amplitude de conhecer a si mesmo com os costumes e instintos.


Considerações:
Para pensar as sociedades humanas, a antropologia se preocupa em detalhar o mais completamente possível os seres humanos que dela fazem parte, e com elas se relacionam, seja em seus aspectos físicos, em sua relação com a natureza, seja em sua constituição cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias particulares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, entre outros.
Embora o estudo das sociedades humanas se remote a Antigüidade Clássica, a antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da enorme revolução cultural iniciada pelo Iluminismo.



Texto 03

História da Antropologia Parte I



A construção do olhar antropológico e seus principais debates:

Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia tenha se definido enquanto disciplina apenas depois da revolução Iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Enquanto o ser humano pensou a si mesmo e sua relação com "o outro", pensou antropologicamente.

Primórdios:

Homero, Hesíodo e os Filósofos Pré-socráticos já se perguntavam a respeito do impacto das relações sociais sobre o comportamento humano. Ora pretendendo este impacto como conseqüência do desejo dos deuses, como enumera a Odisséia de Homero e a Teogonia de Hesíodo, ou se valendo de construções racionais de pensamento, valorizando muito mais a apreensão da realidade no cotidiano da experiência humana, como privilegiaram os Filósofos Pré-socráticos, foi, sem dúvida, na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo. Os gregos deixaram substanciosos registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como chineses e romanos. Nestes textos, nascia, por assim dizer, a Antropologia, e um exemplo disto, no século V a.C., se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuição grega faz parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e Xenofonte (a respeito da Índia).

Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, debruçado sobre a tentativa de investigar as origens da religião, das artes e do discurso. Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos germanas, tomando como base os relatos dos soldados; nesta análise salienta o vigor dos germanos em contraste com os romanos da sua época. Agostinho um dos pilares teológicos do Catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas “pagãs” e moralmente inferiores às sociedades cristianizadas. Em sua obra já discutia de maneira pouco elaborada a possibilidade do “ tabu do incesto” funcionar como norma social de manutenção da coesão da sociedade. É importante salientar, que Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico participou das discussões da Filosofia, ao longo dos séculos. Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional voltado ao estudo da experiência humana, como é o caso do administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses tinham para administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos: a Antropologia Biológica (ou Física), de modo geral analisada como ciência natural, e a Antropologia Cultural, classificada como Ciência Social.

O século XVIII:

Até o século XVIII, o saber antropológico esteve presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em sua produção acerca dos povos que conheciam, a maneira como estes estabeleciam sua experiência humana, por meio de seus hábitos, normas, características, mitos, rituais, linguagem, etc. Apenas no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Lineu, tendo como objeto a análise das "raças humanas".
Os informantes destes primeiros tempos eram os textos que descreviam as terras (Fauna, Flora, Topografia) e os povos “descobertos” (Hábitos e Crenças). Algumas obras que foram utilizadas, para discutir os indígenas brasileiros, por exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de Caminha (“Carta do Descobrimento do Brasil”, os relatos de Staden, “Duas Viagens ao Brasil”, os registros de Jean de Léry, “Viagem a Terra do Brasil”, e a obra de Jean Baptiste Debret, “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Além destas outras obras falavam das terras récem descobertas, como a carta de Colombo aos Reis Católicos. Toda esta produção escrita levantou uma grande discussão acerca dos indígenas. A contribuição dos missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de Las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada “teoria do bom selvagem”, que pensava os índios detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser aprendido pelos ocidentais. Esta teoria defendia a idéia de que cultura mais próxima do estado "natural" serviria como remédio aos males civilizatórios.

O século XIX:

No Século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes se utiliza do termo homem pré-histórico, para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante antiga. Posteriormente, em 1865 John Lubock reavaliou numerosos dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.
Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859 e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista. Partindo da discussão trazida à tona por estes pesquisadores, nascia a Antropologia Biológica(Física).



Texto 04

História da Antropologia Parte II

A Antropologia Evolucionista:
Demarcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que pensava a sociedade européia da época como o apogeu de um processo evolucionário, do qual as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos". Esta visão tomava como princípio o seu próprio modelo de “civilização”, para classificar, julgar e, posteriormente, justificar a dominação de outros povos. Esta maneira de pensar o mundo, a partir de sua concepção civilizatória, valorizando-a como superior, ignorando as diferenças entre os povos, tidos como inferiores recebe o nome de etnocentrismo.
Etnocêntrica, a concepção européia de homem se atribui o valor de “civilizado”, chegando a afirmar que os outros povos, como os das Ilhas da Oceania estavam “situados fora da história e da cultura”. Esta afirmação esteve muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.


A teoria antropológica evolucionista:
Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes obras da antropologia, pensavam, por exemplo, o indígena das sociedades extra-européias, como o primitivo, o ancestral do ser humano civilizado. Embora isto tenha firmado e qualificado o saber antropológico como disciplina, centralizando seu debate no modo como as formas mais simples de organização social teriam, de acordo com aquela linha teórica, evoluído, para alcançarem as formas mais complexas destas sociedades, culminando, para os pensadores de então, na sociedade européia.
Nesta forma de apreender a experiência humana, esta é avaliada como idêntica, desenvolvida em ritmos diversos, e todas as sociedades, mesmos as desconhecidas pertenceriam a esta linha evolutiva, estando, somente, em etapas distintas. Isso balizou a idéia de que a demanda colonial seria "civilizatória", pois estaria levando aos povos ditos "primitivos" o "progresso tecnológico-científico" das sociedades tidas como "civilizadas". É preciso pensar estes equívocos como parte da visão de mundo da época, que pretendiam estabelecer as diretrizes gerais de uma lei universal de desenvolvimento. Pensando desta forma, por exemplo, Durkheim se valeu do estudo das manifestações totêmicas dos nativos australianos, para pensar a origem de todas as religiões. Partindo de tais premissas, surgem os conceitos de progresso e determinação.


O método da antropologia evolucionista:
O método se centralizava numa incansável comparação de dados, retirados das sociedades e de seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religiosos, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador, que lhe serviam para comparar as sociedades entre si, determinando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução, e, portanto, os evolucionistas pensavam os costumes como se eles se demarcassem por uma espécie de substância, finalidade, origem, uma individualidade, não como um elemento da gramática social, interdependente de seu contexto.


Os pensadores da antropologia evolucionista:
A sistematização do conhecimento acerca destes povos, tido como "primitivos", se deu, predominante, em gabinetes, sem contato com estes povos, utilizando apenas os relatos escritos, de viajantes de diversos tipos. A produção dos antropólogos do período é o resultado desta compilação acerca das culturas humanas.


A Antropologia difusionista
A Antropologia Difusionista reagia ao evolucionismo, e foi contemporânea a ele.Privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos da origem da mesma e da sua extensão de uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram conseqüência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica".


O surgimento da "linhagem francesa" na Antropologia:
Com Émile Durkheim começam a se definir os fenômenos sociais como objetos de investigação socio-antropológica, e a partir da análise da publicação de Regras do Método Sociológico, em 1895, começa-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então. No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas representações primitivas, estudo que culminará na obra Algumas formas primitivas de classificação, publicada em 1901. Inaugura-se a denominada " linhagem francesa" na Antropologia.


O século XX:
Com a publicação, de “As formas elementares da vida religiosa” em 1912, Durkheim, ainda preso ao debate evolucionista, discute a temática da religião. Marcel Mauss publica com Henri Hubert, em 1903 a obra Esboço de uma teoria geral da magia, aonde forja o conceito de mana. Vinte anos depois, seu livro, Ensaio sobre a dádiva tece o conceito de fato social total. Centralizada, inicialmente, na denominada “Etnologia”, a Antropologia Francesa, inicia, como disciplina de ensino, a partir de 1927, no “Institut d´Ethnologie del Musée de l´Homme” em Paris. Em seus anos início a disciplina se vinculara ao Museu de História Natural, porque se abordava a antropologia como uma subdisciplina da história natural. Ainda existia um determinismo biológico de acordo com o qual se considerava que as diferenças culturais eram fruto das diferenças biológicas entre os humanos.
Nos EUA, Franz Boas desenvolve a idéia de que cada cultura tem uma história particular e que a difusão de traços culturais direcionar-se a toda parte. Nasce o relativismo cultural, e a antropologia defende sua investigação atrelada ao trabalho de campo. Para Boas, cada cultura pertenceria a sua própria história. Para compreender, efetivamente, a cultura é preciso reconstruir a história da mesma. Surgia o Culturalismo, também conhecido como Particularismo Histórico. Deste movimento nasceria, posteriormente a escola antropológica da Cultura e Personalidade. Paralelo a estes movimentos, na Inglaterra, nasce o Funcionalismo, que enfatiza o trabalho de campo (observação participante). Para sistematizar o conhecimento acerca de uma cultura é preciso apreendê-la em sua totalidade. Para elaborar esta produção intelectual surge a etnografia. As instituições sociais centralizam o debate, a partir das funções que exercem na manutenção da totalidade cultural.



Texto 5


História da Antropologia Parte III

A Antropologia funcionalista:
O Funcionalismo inspirava-se na obra de Durkheim. Advogava um estreito paralelismo entre as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e conservação), porque em ambos a harmonia dependeria da interdependência funcional das partes. As funções eram analisadas como obrigações, nas relações sociais. A função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental, dentro de um sistema de relações sociais.


A Antropologia estrutural:
A Antropologia Estrutural nasce na década de 40. Seu grande teórico é Claude Lévi-Strauss, e seu debate se centraliza na idéia de que existem regras estruturantes das culturas presentes na mente humana, e que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentindo. Para tecer seu debate teórico, Lévi-Strauss se apoiou em duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da lingüística, por Ferdinand de Saussure, denominado de Estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.


Idéias centrais:
Para a Antropologia Estrutural as culturas se caracterizam como sistemas de signos partilhados e estruturados, por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto humano que os originam. Em 1949, com a publicação por Lévi-Strauss de “As estruturas elementares de parentesco”, na qual analisa os aborígines australianos, em particular, seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia, aliança, consangüinidade passam a fazer parte das abordagens etnográficas. Claude Lévi-Strauss piublicou as seguintes obras: As estruturas elementares do parentesco - 1949. Tristes Trópicos - 1955. Pensamento selvagem - 1962. Antropologia estrutural - 1958. Antropologia estrutural dois - 1973. O cru e o cozido - 1964. O homem nu – 1971.


O particularismo histórico:
Também conhecida como Culturalismo, esta escola estadunidense, defendida por Franz Boas, rejeita, de maneira marcante o evolucionismo que dominou a antropologia durante a primeira metade do século XX.


Principais ideias:
A discussão desta corrente se detém na idéia de que cada cultura tem uma história particular, e a difusão cultural pode se desenvolver para variadas direções. acontecer em qualquer direção. Cria-se o conceito de relativismo cultural, pensando a evolução, possível, também como fenômeno que pode se dar do estado mais complexo para o simples.


A Escola de Cultura e personalidade:
Criada por estudiosas estadunidenses discípulas de Franz Boas, influenciadas pela Psicanálise e pela obra de Nietzsche, concebia a cultura como detentora de uma “Personalidade de base” , partilhada por todos os membros da mesma. Estabelecia uma tipologia cultural, haveria culturas: dionisíacas (centradas no êxtase), apolíneas (estruturadas não desejo de moderação); pré-figurativas, pós-figurativas, co-figurativas.


A Antropologia interpretativa:
Com cerca de vinte livros publicados, Clifford Geertz é, depois de Claude Lévi-Strauss, provavelmente, o antropólogo cujas idéias causaram maior impacto após a segunda metade do século 20, não apenas para a própria teoria e prática antropológica, mas também fora de sua área, em disciplinas como a psicologia, a história e a teoria literária. Considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea - a chamada Antropologia Hermenêutica ou Interpretativa.
Geertz, graduado em filosofia e inglês, antes de migrar para o debate antropológico, obteve seu PhD em Antropologia em 1956 e desde então conduziu extensas pesquisas de campo, nas quais se originaram seus livros, escritos essencialmente sob a forma de ensaio. Suas principais pesquisas ocorreram na Indonésia e no Marrocos. Foi o descontentamento com a metodologia antropológica disponível à época de seu estudo, para Geertz, excessivamente abstrata e de certa forma distanciada da realidade encontrada no campo, que o levou a elaborar um método novo de análise das informações obtidas entre as sociedades que estudava. Seu primeiro estudo tinha por objetivo entender a religião em Java.
No final, foi incapaz de se restringir a apenas um aspecto daquela sociedade _que ele achava que não poderia ser extirpado e analisado separadamente do resto, desconsiderando, entre outras coisas, a própria passagem do tempo. Foi assim que ele chegou ao que depois foi apelidada de antropologia hermenêutica. Sua tese principia na defesa do estudo de "quem as pessoas de determinada formação cultural acham que são, o que elas fazem e por que razões elas crêem que fazem o que fazem".
Uma das metáforas preferidas, para Geertz, para definir o que faz a Antropologia Interpretativa é a da leitura das sociedades como textos ou como análogas a textos. A interpretação se dá em todos os momentos do estudo, da leitura do "texto" cheio de significados que é a sociedade à escritura do texto/ensaio do antropólogo, interpretado por sua vez por aqueles que não passaram pelas experiências do autor do texto escrito . Todos os elementos da cultura analisada devem ser entendidos, portanto, à luz desta textualidade, imanente à realidade cultural.


Ideias centrais:
A Antropologia Interpretativa analisa a cultura como hierarquia de significados, pretendendo que a etnografia seja uma “descrição densa”, de interpretação, escrita e cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica. É crucial a leitura da leitura que os “nativos” fazem de sua própria cultura.


Outros movimentos:
Outros movimentos significativos, na história do século XX, para a teoria Antropológica foram as escolas Cognitiva, Simbólica e Marxista.


Debates pós-modernos:
Na década de 80, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas críticas a todas as escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas. No geral, este debate privilegiou algumas idéias: a primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor, portanto a antropologia seria uma interpretação de interpretações. Da crítica das retóricas de autoridade clássicas, fortemente influenciada pelos estudos de Foucault, surgem metaetnografias, ou seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito para esta discussão a formação de antropólogos nos países que então eram analisados apenas pelos grandes centros antropológicos.


Ideias centrais:
• Privilegia a discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no modelo das etnografias.
• Politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica, questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o "nativo".
• Crítica dos paradigmas teóricos e da “autoridade etnográfica” do antropólogo. A pergunta essência é: quem realmente fala numa etnografia? O nativo? Ou, o nativo, visto pelo prisma do etnógrafo?
• A etnografia passa a ser desenvolvida como uma representação polifônica da polissemia cultural, e nela deveriam estar presentes, claramente, as vozes dos vários informantes.



Texto: 06

Reflexões Sobre Antropologia Religiosa

Por: Jorge Schemes

A antropologia religiosa estuda o ser humano segundo as ciências da religião, enquanto ser aberto, que busca e acolhe o transcendente usando o método científico e trabalhando com as fontes das matrizes religiosas. Dentre as tarefas da antropologia religiosa desataca-se o estudo do ser humano situado na existência sociopolíticoeconômica. Isso envolve dimensões do ser humano, tais como liberdade, sofrimento, mal, política, cultura, ecologia, trabalho, etc., dentro de um contexto moderno com referências à pós-modernidade. Alguns temas chaves da antropologia religiosa são a origem do homem (criação), como ser nativo (original), na atualidade, na história e como ser peregrino em seu destino como ser escatológico (finalidade, realização). Assim, dentro da antropologia religiosa o estudo do ser humano envolve sua origem, sua atualidade e seu destino; sua criação, sua história e sua finalidade ou realização; sua essência enquanto ser nativo, enquanto ser em progresso e enquanto ser escatológico. Há dois aspectos na dimensão pessoal e social que envolve o Ser: o ser humano natural e otimista e o ser desumano pessimista e realista. Enquanto ser pessoa ele está voltado para o interior e enquanto ser comunidade está voltado para a sociedade, para a cultura, política e história. Se torna inegável que este Ser é um nó de relações. Há ondas de relações construídas pelo ser humano que estão direcionadas no sentido horizontal e vertical. O nó de relações se dá no sentido horizontal com o mundo (cosmos) envolvendo ciência, técnica, trabalho, meio-ambiente, mas também envolve relações intersubjetivas e interpessoais envolvendo aspectos como sexualidade, política, sociedade, cultura. No sentido vertical, o nó de relações construído pelo Ser ocorre nas dimensões do ego e do transcendente. Há uma relação de profundidade na busca por si mesmo, pelo ser pessoa, pela liberdade, pelo humano no ser na relação corpo e espírito. Por outro lado há uma relação de busca pelo mistério, pelo oculto que se dá na dimensão da fé, da religiosidade e da religião. Todos estes aspectos fazem parte das ondas de relações construídas pelo ser humano para dar sentido a sua realidade.
Todavia, o ser humano pode cortar relações em qualquer eixo dimensional ou até mesmo romper com todos. O ser humano desumano é aquele que corta relações em qualquer um dos eixos ou dimensões. O ser humano pronto e acabado não existe, pois o humano no ser está sempre inserido num processo dialético, ou seja, se fazendo, se desfazendo e se refazendo. Todavia, há um forte peso cultural nesse processo. Por exemplo, a cultura judaico-cristã trabalha com o princípio dualista da distinção, enquanto por outro lado a cosmovisão holística é integradora e defende um movimento interdisciplinar. A ciência parte do princípio da divisão para o controle (divide para controlar), isso caracteriza o que conhecemos como especialização, que na minha opinião significa saber cada vez mais a respeito de cada vez menos. Na cosmovisão judaico-cristã significa distinguir, pois a fé judaico-cristã vem do conceito do Deus criador distinto. Essa concepção não desfaz a inter-relação e a integralidade. As grandes religiões do Oriente não têm um Deus criador distinto, pois para eles tudo é uma realidade só caindo na concepção panteísta de Deus, ou seja: tudo é deus e deus é tudo. Nesta concepção não distinção, mas uma relação harmoniosa de interdependência (holismo). Quando se trabalha a distinção corre-se o risco de dividir as coisas, e é isso que caracteriza a ciência moderna. O método cientifico vai distinguindo as coisas e corre o risco de perder a cosmovisão integradora, global. René Descartes escreveu: “penso, logo existo”, em seu método defende a idéia do ser humano psicofísico (extensão pensante e extensão corpórea), assim, o mundo é algo para ser pensando, quantificado, medido, etc. a ética que está subentendida na declaração de descartes é que eu sou, mas o outro não é. Desta maneira o mundo pós-moderno capitalista e neoliberal justifica o individualismo em contraposição a alteridade como fundamentação ética, e promove no inconsciente coletivo as raízes da discriminação e da exclusão.
O mesmo ser humano que é um nó de relações não é isolado, mas forma uma rede onde cada um de nós é um dos nós. Tudo que ocorre na rede é solidário (solidariedade incondicional no bem o no mal). Todavia, quando um nó da rede fica solto ou desamarrado, a rede fica solta e frágil. Manter a rede firme depende de cada um de nós e de todos. A solidariedade do bem é estruturante, e a do mal é desestruturante. Nós somos mais bem integrados no bem (união solidária) do que no mal, assim, só pode existir o mal porque a rede está estruturada no bem. Essa condição social solidária é mais radicada no bem do que no mal, porém o mal agride mais porque afeta o bem natural e comum da constituição da rede e de cada nó (ser humano). Nesse contexto está situada a importância da antropologia religiosa. Enquanto área do conhecimento, a ciência da religião destaca-se como orientadora no processo de contato com as grandes tradições e orientações culturais do nosso tempo (cada povo cria suas grandes orientações culturais). Vejamos as quatro grandes orientações culturais de nosso tempo histórico:
1. Subjetivismo (individualismo): trabalha a partir de si como indivíduo. No passado, algumas culturas pensavam de forma coletiva e não individual (eu). No campo político-filosófico destaca-se o neoliberalismo, o economicismo e o materialismo. No âmbito religioso destaca-se a religião individualizada. Todavia, quando o eu está fora da constituição da rede acaba contribuindo para a criação de uma sociedade fragmentada e regida pelo princípio da anomia (sem lei). As quatro grandes orientações culturais exacerbam (levam a extremos) as quatro grandes dimensões do nó de relações, ou seja: do ser humano com o mundo, com os outros, consigo mesmo e com o transcendente.
2. Economicismo (centrado no ter, no concentrar, no reter as coisas): Trabalha com o princípio da coisificação, da centralização nas coisas. As relações valem como se fossem coisas, há uma coisificação das relações. O princípio ético é pautado pelo lema: usar pessoas e amar as coisas. O Mercado é tratado como um ser vivo autônomo que, segundo Adam Smith, se faz por si mesmo. Há uma identificação do Mercado como um ser pessoal (animismo) o qual chega a ser tratado como se fosse um deus, um ídolo da racionalidade de uma sociedade tecnocrata. As pessoas se entregam ao mercado financeiro como oferendas de produção e consumo. Há uma marginalização intencional, um empobrecimento dos pobres e uma falta de participação ativa e crítica nos processos políticos. Outras evidências ficam por conta da desigualdade social, perda da soberania nacional e dependência do mercado financeiro, perda de valores.
3. Socialismo no sentido de massificação: há grandes aglomerações de pessoas no mundo pós-moderno. Há um forte desejo de igualdade e paz universal. O mundo é visto como uma aldeia universal.
4. Pluralismo religioso: no século XXI as pessoas ainda estão ansiosas pelo sagrado, pelo transcendente. Algumas vezes esse sagrado é comercializado e coisificado. Há uma cosmovisão inter-religiosa interdependente e integradora. Busca-se a unidade na pluralidade e pluralidade na unidade.
No contexto da cultura judaico-cristã, percebemos a infiltração do dualismo antropológico (matéria/espírito; corpo/alma; emoção/razão; etc.). Há uma forma dividida do pensamento crítico que não está presente e não faz parte do pensamento oriental. A pergunta que precisa ser feita é: por que o ocidente tem esta forma de pensamento e esta prática dualista? A infiltração do dualismo antropológico no pensamento ocidental teve influência da filosofia platônica, principalmente através de Santo Agostinho no contexto da tradição religiosa de matriz cristã. Para Platão a filosofia tinha uma dimensão dualista entre o mundo das idéias, verdadeiro, repleto de conhecimento (episteme) e o mundo terreno, onde as coisas eram cópias e sombras, repleto de opiniões (achismo). Esta filosofia estava em voga no início do cristianismo por meio de Plotino que trabalhava o neoplatonismo. Fundamentado em Platão, Agostinho colocou o conteúdo cristão numa linguagem filosófica e cultural platônica. Assim como Platão ele também defendia a idéia do dualismo: céu/terra; Deus/homem; etc. Agostinho defendia a existência de dois mundos, um celestial, onde estavam as idéias, o divino e as luzes, e outro terrestre, o qual era cópia e sombra da realidade celestial. Deste modo o cristianismo vai sendo marcado por uma divisão dualista da realidade (espírito/matéria; alma/corpo; Deus/mundo; razão/emoção; igreja e religião/sociedade e política; etc.; este é o dualismo que está presente em nosso mundo hoje. Porém vale lembrar que há uma diferença entre ética e ontologia dualista. Ética envolve o fazer o bem ou o mal, enquanto ontologia envolve o estudo do ser onde o corpo é mau e alma é boa.
Outra influência sentida em nosso dia é da filosofia cartesiana (René Descartes) que se faz presente na ciência moderna. “Eu penso, logo sou”, alegava Descartes. Em seu conceito psicofísico do ser humano havia uma lógica subentendida pela cultura ocidental européia, e essa lógica tinha uma fundamentação ética que justificaria verdadeiros genocídios de outros seres humanos no continente americano. No dualismo cartesiano da Res Cogitans (sujeito pensante, o ser humano, europeu, homem e sacerdotes), e da Res Extensa (objeto material, mundo, outros povos, mulher e povo) os europeus encontraram uma justificativa válida para validar seu projeto de morte para os povos que habitavam o continente americano.
Hoje, na sociedade cultural pós-moderna, há tentativas de superação do dualismo platônico e do dualismo cartesiano. Uma delas é de justaposição, onde se justapõe uma coisa à outra. Outra tentativa é dialética (inversão), onde se põe valor naquilo que antes não valia, por exemplo: o corpo é valorizado e o espírito não. E uma terceira tentativa de superação é de inclusão das diferenças, onde somos seres corporais e espirituais que temos liberdade e responsabilidade. Neste contexto destaca-se o diálogo inter-religioso, o qual tem por objetivo incluir as diferenças e as minorias sob o princípio do diálogo e da reverência pautado pela ética da alteridade em contraposição a ética cartesiana.
Algumas teorias contemporâneas causam desconfiança sobre a validade da antropologia religiosa, dentre elas a que defende o surgimento da religião como resultado de causas psicológicas ou como determinações do meio sócio-econômico, e não como uma relação do homem com o divino. A antropologia religiosa está fundamentada nas relações do homem com o divino na dimensão do eu e do outro como pólos que se complementam. Busca os fundamentos das tradições culturais e da experiência religiosa, ou das relações do homem com o divino, que estão presentes na inter-relação entre o eu, o outro e o sagrado (que se manifestam na comunidade). A antropologia religiosa busca uma interpretação aberta das tradições culturais e experiências religiosas fazendo uma análise antropológica das manifestações religiosas. Estas manifestações buscam a universalidade do sagrado e causam uma classificação. Contudo, são nestas manifestações que a antropologia religiosa busca a essência da religião. Esta essência envolve vários aspectos como objetos de análise e reflexão, ou seja: fatores psicológicos; sistema religioso; crenças; teologia; experiência existencial com o divino; fenomenologia antropológica; descomprometimento crítico sem estabelecer juízo de valor; coletas de dados empíricos, históricos, culturais, econômicos, políticos e sociais; purificação de conceitos; ciências humanas; linguagem e símbolos próprios, experiências religiosas próprias a nível individual e coletivo. Neste sentido o cientista da religião não pode colocar na frente de seu objeto de estudo e pesquisa a sua própria fé. Se isso ocorrer ele será um catequista ou proselitista. Para evitar este erro é fundamental entender que cultura e religião estão entrelaçadas, interligadas. Uma influencia a outra, são justapostas porque ambas se influenciam e são influenciadas. Também é fundamental nortear o trabalho da antropologia religiosa pela ética que mais dá conta das relações humanas, ou seja; a ética da alteridade.



Texto 07

Antropologia Filosófica

Por: Jorge Schemes

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE PLATÃO

Para Platão o homem é corpo e alma, sendo a alma o que realmente somos e o corpo como se fosse apenas algo material que nos segue. A antropologia filosófica de Platão sugere que o verdadeiro homem é um ser imortal, cujo nome próprio é a alma, que entra na comunhão dos deuses. O homem é uma união do corpo e da alma, sendo o corpo considerado apenas um veículo da alma. A alma é propriamente o homem, sendo o corpo uma sombra. Mas esta união é infeliz, pois o corpo serve como uma prisão para a alma, e ela só atingirá a verdade do que busca quando se desprender do corpo. Platão repete a expressão de Pitágoras que considerava o corpo como o túmulo da alma.
Segundo o pensamento de Platão, a origem da alma está no Demiurgo, todas as almas humanas são feitas pelo próprio Demiurgo, o qual criou todas individualmente, as entregou para o seu destino seqüencial, aos “deuses criados”, à terra e aos planetas, para introduzirem a alma na existência, revesti-la de um corpo, nutrir o homem e deixá-lo crescer para depois recebê-lo de novo quando deixar esta vida. Para Platão a alma é uma substância invisível, imaterial, espiritual. Só quando é entregue ao instrumento do tempo é que ela se une ao corpo, e só então nascem as percepções. Em sua obra “A República”, Platão define três partes da alma: a alma racional ou espiritual que se manifesta no pensamento puro e na contemplação supra-sensível; a alma irascível à qual pertencem as nobres excitações como a cólera, a cobiça, a coragem e a esperança; e alma concupiscível, onde tem a sua sede os instintos da nutrição e do sexo, como o prazer e o desprazer.
Todo o interesse de Platão pelo homem se concentra, portanto, na alma, e a sua antropologia é essencialmente uma psicologia.


ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE SÓCRATES

Depois de algum tempo seguindo os ensinos dos naturalistas, Sócrates passou a sentir uma crescente insatisfação com o legado desses filósofos e passou a se concentrar na questão do que é o homem – ou seja, do grau de conhecimento que o homem pode ter sobre o próprio homem. Enquanto os filósofos pré-socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder à questões do tipo: “ O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?”; Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: “ O que é a natureza ou a realidade última do homem?”
A resposta a que Sócrates chegou é a de que o homem é a sua alma – psyché, por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua história, uma operante ou a consciência e a responsabilidade intelectual e moral. Esta colocação de Sócrates posteriormente exerceu e ainda exerce uma influência profunda em toda a tradição européia até hoje. Ensinar o homem a cuidar de sua própria alma seria a principal tarefa a ser desempenhada por Sócrates e por todos os filósofos autênticos. Sócrates acreditava ter recebido essa tarefa por Deus, dizia que era a ordem de Deus. Procurava persuadir a jovens e velhos a cuidar não só do corpo, nem exclusivamente das riquezas ou de qualquer outra coisa mais fortemente do que da alma, antes de qualquer coisa. Segundo ele, é do aperfeiçoamento da alma que nascem as riquezas e tudo o que mais importa ao homem e ao Estado.
Para Sócrates o homem usa o seu corpo como instrumento, o que significa que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo, pois, o próprio corpo. Assim, para a pergunta: “o que é o homem?”, não seria lógico responder que é o seu corpo, mas sim que é “aquilo que se serve do corpo”, que nada mais é do que a psyché ou a alma. Na visão de Sócrates, esta mesma alma seria imortal e fadada a reencarnar tantas vezes fosse necessárias até a alma se aperfeiçoar de tal forma que não precisasse mais voltar a este planeta.


ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE ARISTÓTELES

Aristóteles diverge de Platão quando afirma que todo o ser vivo tem uma só alma e que o corpo humano não é obstáculo, mas instrumento da alma racional, que é a forma do corpo. Para Aristóteles o homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira cumpre as funções de forma em relação a matéria, que é constituída pelo segundo. O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento, pelo que ela é espírito ou alma racional. Mas a alma humana desempenha também as funções da alma sensitiva e vegetativa (alma sensitiva é precisamente a sensibilidade e a locomoção, e alma vegetativa é a nutrição e a reprodução), sendo superior a estas.
Assim, a alma humana, embora sendo uma e única, tem várias faculdades e funções, porquanto se manifesta efetivamente com atos diversos. Segundo a visão aristotélica, as faculdades fundamentais do espírito humano são duas: teorética e prática, cognoscitiva e operativa, contemplativa e ativa. Cada uma destas se divide em dois graus: sensitivo e intelectivo, considerando que o homem é um ser racional, quer dizer, não é um espírito puro, mas um espírito que anima um corpo animal.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hirschberger, Johanes. História da Filosofia na Antiguidade. Ed. Herber, São Paulo, 1965.
Platão. Coleção Os Pensadores. Vol. IV, Ed. Abril, São Paulo, 1987.
Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. História da Filosofia. Vol. I, Ed. Paulus, São Paulo, 1999.
Sócrates. Coleção Os Pensadores. Vol. V, Ed. Abril, São Paulo, 1988.

Reviravolta na evolução

Ossos encontrados na Etiópia revelam que, ao contrário do que se imaginava até hoje, o uso de ferramentas começou cerca de 1 milhão de anos antes do Homo habilis. Paleoantropólogo diz que descoberta muda drasticamente a história do homem.

É uma cena difícil de imaginar para quem acredita na supremacia da espécie Homo dentro da escala evolutiva. Há 3,4 milhões de anos, o marido de Lucy (1) sai para caçar e encontra um mamífero do tamanho de uma vaca. O animal está agonizando — talvez tenha sido ferido por outro maior que ele. Então, o hominídeo, de 1m de altura, mais parecido com um chimpanzé do que com um homem moderno, pega uma faca que ele mesmo fabricou, corta os pedaços de carne e leva a presa para a caverna. O jantar da família está garantido.

Graças a dois pedaços de ossos encontrados da região de Afar, na Etiópia, cientistas do Projeto de Pesquisa Dikika (2) descobriram que os ancestrais do homem moderno comiam carne um milhão de anos antes do que se acreditava. Também eram capazes de usar um artefato complexo para separar o alimento da carcaça. Até agora, essa era uma habilidade atribuída apenas ao Homo habilis, que viveu cerca de um milhão de anos depois do Australopiteco afarense, espécie de hominídeo ao qual Lucy pertenceu.

O líder da equipe de pesquisadores, o paleoantropólogo Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da Califórnia, disse que a descoberta muda “dramaticamente” o que se pensa, até agora, sobre o comportamento dos ancestrais do homem. Segundo ele, o uso de ferramentas alterou a maneira como os hominídeos interagiam com a natureza, permitindo que eles experimentassem novos tipos de alimento e explorassem territórios ainda desconhecidos. “Criar ferramentas foi um passo crítico para o nosso padrão evolutivo, e que eventualmente permitiu o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas, como aviões, tomógrafos e até iPhones”, exemplificou Alemseged.

À primeira vista, os dois ossos encontrados podem parecer apenas mais um par de fósseis. De acordo com o paleoantropólogo, contudo, trata-se de uma revolução na história evolutiva. “Essa descoberta vai, definitivamente, nos forçar a revisar nossos textos sobre a evolução humana, já que evidencia que o uso de ferramentas e o consumo de carne na nossa família é um milhão de anos mais antiga do que acreditávamos. E esses desenvolvimentos tiveram um impacto enorme na história da humanidade”, comenta.

Até agora, a evidência mais antiga de uso de ferramentas para cortar carne havia sido descoberta em Bouri, também na Etiópia, em ossos com várias marcas, datados de 2,5 milhões de anos atrás. A ferramenta de pedra mais antiga, da mesma época, foi encontrada perto da região etíope de Gona. Apesar de nenhum fóssil de hominídeo ter sido descoberto junto dos ossos em Bouri ou à ferramenta em Gona, uma mandíbula superior pertencente a algum indivíduo do gênero Homo com cerca de 2,4 milhões de anos estava em uma localidade próxima. A maior parte dos paleoantropólogos acredita que as ferramentas foram feitas e usadas apenas a partir do Homo habilis, que leva esse nome justamente pela habilidade de transformar objetos da natureza em artefatos úteis.


Comprovação

Os ossos dos animais — que teriam o tamanho de uma vaca e de uma cabra — encontrados agora foram datados em 3,4 milhões de anos. Vários exames comprovaram que as marcas aparentes nos fósseis foram provocadas por um objeto cortante. Usando a técnica de energia dispersiva de raios X, os pesquisadores constataram que as marcas foram criadas antes de os ossos serem fossilizados, significando que um dano recente pode ser eliminado como causa das marcas. Além disso, elas estão mais de acordo com a morfologia de um corte provocado por um objeto de pedra do que com o formato de uma mordida.

De acordo com Alemseged, os ossos estavam a 200m do local onde a equipe do paleoantropólogo havia descoberto, há 10 anos, o esqueleto de Selam. Anunciada à imprensa em 2006, a Australopithecus afarensis foi apelidada de “filha da Lucy”, a fêmea que viveu há cerca de 3,3 milhões de anos. “Depois de uma década estudando Selam e procurando por novas pistas sobre sua vida, podemos, agora, adicionar um detalhe significativo à sua história”, disse Alemseged ao Correio. “À luz dessa descoberta, podemos pensar que Selam deveria ajudar os membros de sua família no corte dos restos dos animais”, diz.

Segundo o pesquisador, a localização e a idade dos ossos encontrados em Dikika indicam claramente que as ferramentas foram usadas por indivíduos da espécie Australopithecus afarensis, já que nenhum outro hominídeo viveu nessa parte da África ao mesmo tempo que ele. “Agora, quando imaginarmos Lucy caminhando pela paisagem do leste africano, procurando por comida, podemos, pela primeira vez, imaginá-la com uma ferramenta de pedra nas mãos e caçando carne”, disse, em nota à imprensa, Shannon McPherron, arqueóloga do Projeto de Pesquisa Dikika. “Com as ferramentas nas mãos, que permitiam facilmente arrancar a carne e quebrar ossos, as carcaças dos animais devem ter se tornado uma fonte de comida mais atrativa. Esse tipo de comportamento remonta a duas características que, mais tarde, seriam usadas para definir nossa espécie — carnívoros e fabricante/usuário de manufaturas”, acrescentou.


Dúvida

Embora esteja claro que o Australopithecus afarensis usava pedras pontudas para arrancar a carne dos ossos, é impossível saber, somente pelas marcas, se os indivíduos chegavam a afiá-las para ganhar esse formato ou se já procuravam, na natureza, por pedras que pudessem servir de ferramenta. Até agora, a equipe de pesquisadores ainda não encontrou nenhuma pedra em Dikika pertencente a esse período. Segundo McPherron, o objetivo do grupo, agora, é tentar localizar as ferramentas para verificar se elas realmente eram feitas pelos Australopithecus afarensis.

Independentemente disso, Alemseged está certo de que a descoberta é reveladora. “Agora, temos um entendimento maior sobre as forças seletivas responsáveis por moldar as primeiras fases da história humana. Uma vez que nossos ancestrais começaram a usar ferramentas de pedra para ajudá-los a desossar grandes carcaças, isso abriu para eles uma competição arriscada com outros carnívoros, o que pode ter requerido um nível de trabalho de equipe sem precedentes”, acredita.


1 - Homenagem aos Beatles

Os ossos de Lucy foram descobertos em 1974, no deserto de Afar, na Etiópia, pelo norte-americano Donald Johanson. Com idade estimada entre 3,4 milhões e 3,2 milhões de anos, ela é a mais antiga ancestral do gênero Homo já encontrada. Outros fósseis de hominídeos descobertos nos últimos anos são mais antigos do que Lucy, mas nenhum está tão completo quanto o dela. O esqueleto ganhou esse nome em homenagem à música dos Beatles Lucy in the sky with diamonds.


2 - Grupo especializado

O instituto de pesquisa foi criado pelo paleoantropólogo etíope Zeresenay Alemseged, em 1999. Nos últimos 11 anos, ele vem conduzindo temporadas de estudo em campo em Dikika com um grupo de pesquisadores internacionais especializados em paleoantropologia, paleontologia, geologia e arqueologia. O objetivo é descobrir questões relacionadas à evolução do homem. Em 2006, a equipe publicou um artigo na revista Nature, descrevendo o mais antigo e mais completo esqueleto de uma criança da espécie Australopiteco afarense, batizada de Selam. 


Três perguntas para Zeresenay Alemseged // Paleoantropólogo

O que o senhor considera o mais importante da descoberta?

Essa descoberta muda dramaticamente o que sabemos sobre o comportamento de nossos ancestrais. O uso de ferramentas alterou a forma como nossos ancestrais interagiam com a natureza, permitindo a eles comer novos tipos de alimentos e explorar novos territórios. Isso também os conduziu à arte de fabricar ferramentas, um passo crítico nos padrões da evolução, que resultou, eventualmente, em tecnologias mais avançadas, como aviões, tomógrafos e iPhones.


O que muda agora no nosso entendimento sobre os australopitecos?

Essa descoberta definitivamente nos força a revisar nossos livros sobre a evolução humana, já que ela mostra a evidência do uso de ferramentas e do hábito de comer carne em nossa família, 1 milhão de anos antes do que o esperado. Esses desenvolvimentos tiveram um enorme impacto na história da humanidade.


Nas escala evolutiva, o que signficiou o uso de ferramentas pelos australopitecos?

Agora, temos um grande entendimento das forças seletivas que foram responsáveis por moldar as primeiras fases da história humana. Uma vez aue nossos ancestrais começaram a usar ferramentas de pedra para tirar a carne de grandes carcaças, eles se dispuseram a entrar em uma competição arriscada com outros carnívoros, o que pode ter requerido a eles engajar em um nível de trabalho de equipe sem precedentes. [Fonte: Correio Braziliense]

Cientistas dizem ter achado a mais antiga imagem dos apóstolos

Imagens seriam as mais antigas dos apóstolos e ficam na catacumba de Santa Tecla, em RomaFoto: Reuters

Arqueólogos afirmam ter encontrado as mais antigas imagens conhecidas dos apóstolos Pedro e Paulo em uma catacumba de Roma. Segundo oficiais do Vaticano, que anunciaram a descoberta, a estrutura fica sob um moderno prédio comercial em um bairro da cidade italiana. As informações são da AP.
De acordo com os pesquisadores, as imagens datam da segunda metade do século IV e foram descobertas no teto da catacumba de Santa Tecla, onde também foram encontradas as imagens mais antigas conhecidas dos apóstolos João e André. Os cientistas afirmam que foi utilizada uma técnica com laser para encontrar as pinturas sob uma camada carbonato de cálcio formada durante séculos no local.
Os arqueólogos dizem ainda que as pinturas podem ser adornos do túmulo de uma nobre romana. "Essas são as primeiras imagens dos apóstolos", diz Fabrizio Bisconti, superintendente de arqueologia das catacumbas, que são mantidas pelo Vaticano. [Fonte: Terra]

Carbono 14 permite elaborar cronologia precisa do Egito antigo

Gravações em papiros ajudaram cientistas a determinar com exatidão datas do Antigo Egito


Uma data confirmada por carbono 14 permitiu estabelecer, pela primeira vez, a cronologia precisa do Egito dos faraós e ratificou várias estimativas anteriores, gerando algumas revisões históricas, destacou estudo publicado na revista científica Science.

Embora algumas cronologias prévias fossem relativamente exatas, era difícil determinar datas precisas para certos eventos do Egito antigo.

A localização cronológica de diferentes dinastias feitas com base em estudos de documentos epigráficos, históricos e arqueológicos tornava ainda mais difícil estabelecer datas, já que em cada novo reinado se voltava a começar do zero.

O carbono 14 permitiu situar cronologicamente com exatidão o Império Antigo, que mostrou ser mais velho que as estimativas de datas realizadas até o presente.

Esta cronologia científica revela também que o reino de Dyeser começou entre 2691 e 2525 antes de Cristo, quando as datações precedentes o situavam no ano 2630 antes de Cristo.

O Império Novo começou entre 1570 e 1544 aC. Até agora se pensava que havia começado ao redor de 1500 aC.

Para fazer a datação com carbono 14, os pesquisadores recolheram em museus da Europa e da América 211 amostras de arte egípcia, sementes, cestaria, têxteis, plantas e frutas.

"Pela primeira vez o carbono 14 é suficientemente preciso para estabelecer uma cronologia absoluta", disse Bronk Ramsey, da Universidade de Oxford, Reino Unido, principal autor deste trabalho divulgado na revista Science de 18 de junho.

"Acho que os egiptólogos celebrarão ao saber que com uma pequena equipe de pesquisa independente corroboramos um século de pesquisas em apenas três anos de trabalho", destacou em um comunicado.

Participaram do estudo cientistas de França, Áustria e Israel. [Fonte: UOL]

Homem veio mesmo só da África, diz estudo

Estudo analisou mais de 4.500 crânios antigos humanos, de todas as regiões do globo. Resultado refuta idéia de que homem tenha surgido em vários lugares ao mesmo tempo.


Uma nova análise de mais de 4.500 crânios procedentes de todo o mundo, combinada com estudos sobre as variações genéticas nos humanos, comprova a teoria de que o ser humano se originou apenas na África -- e de nenhum outro lugar. Os resultados do relatório, publicado na última edição da revista científica britânica "Nature", mostram que a diversidade genética diminui à medida que a população se afasta da África. A observação coincide com a teoria de que a população mundial descende de um número reduzido de Homo sapiens surgido e emigrado da África. Além disso, ao estudar os crânios de mais de 105 populações diferentes, os cientistas descobriram que os atributos físicos não só variavam mais entre os mesmos exemplares do sudeste da África, mas as diferenças diminuíam quanto mais afastada do continente africano era a área de onde provinham. As origens e a dispersão dos primeiros humanos anatomicamente modernos geraram um debate entre os que atribuem a origem a uma região da África Subsaaariana e os que sustentam que diferentes populações evoluíram independentemente desde o Homo erectus até o Homo sapiens em diversas áreas do planeta. O primeiro dos cenários, apoiado em análises genéticas, constata uma expansão dos humanos em direção ao Oriente Médio, Europa, Ásia, Oceania e América a partir de um número reduzido de migrantes, o que teria levado a uma perda da diversidade genética à medida que aumentava a distância do continente africano. Liderados por Andrea Manica, do departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, os pesquisadores alegam que o estudo demonstra "definitivamente" que os atuais humanos se originaram em uma única região da África. Para assegurar a validade das conclusões, a equipe de cientistas britânicos tentou utilizar dados para encontrar origens dos primeiros humanos modernos fora da África, experimento que terminou sem resultados. [Fonte: G1]

SOMOS UM POUCO NEANDERTAIS

Cientistas descobrem que espécie se misturou com os nossos ancestrais. Habitantes da Europa, Ásia, Oceania e América partilham gene com espécie desaparecida há 24 mil anos:
Não somos a espécie que pensamos ser. Assumimos que somos melhores do que os neandertais, ou que a superioridade da nossa espécie os levou à extinção. Mas, de acordo com as últimas análises de DNA, estas criaturas primitivas se relacionaram com o Homo sapiens, passando seus genes para as nossas linhagens.
Concepção artística mostra humano moderno ruivo e sua contraparte neandertal (Foto: Michael Hofreiter e Kurt Fiusterweier/MPG EVA)

Isto certamente acaba com o mito de uma espécie distinta, pura e triunfante sobre os neandertais e outras espécies. Estas novas descobertas podem nos obrigar a considerar os neandertais como parte da nossa espécie ou, então, sermos obrigados a repensar a nossa classificação como Homo sapiens.
Os biólogos dizem que o conceito de espécie, ensinado nas escolas, que diz que elas se tornam distintas quando seus membros não podem produzir descendentes férteis, ficou ultrapassado. Hoje, os cientistas perceberam que a separação delas é um processo, diz o biólogo Paul Schmidt, da Universidade da Pensilvânia. Os grupos podem interagir produzindo descendentes férteis e inférteis.“Um biólogo pode dizer: ?Hum! Isto não é um grande achado, acontece a toda hora”, diz. Mas fica mais difícil admitir tais relações interespécies quando humanos são envolvidos. No passado, mesmo entre aqueles que aceitavam que nós não fomos criados por uma divindade, havia a crença de que éramos o ponto final de uma poderosa cadeia evolutiva. Agora, descobrimos que fazemos parte de um emaranhado, como os outros animais.A evidência de que os neandertais se misturaram com os ancestrais humanos vem de uma comparação entre o DNA humano e o extraído de ossos de neandertais, com 38 mil anos, como parte do Projeto Genoma Neandertal.
Os pesquisadores trabalham com a hipótese de que a humanidade surgiu na África, há cerca 100 mil anos, e começou a se expandir em várias direções, substituindo espécies mais antigas de hominídeos na Europa, Ásia e Oriente Médio.
O mais famoso destes substituídos foram os neandertais, cujos ancestrais se separaram da nossa linhagem cerca de 400 mil anos atrás. Com o passar do tempo, a evolução os moldou para serem mais pesados e mais fortes do que os humanos modernos. A palavra neandertal tornou-se sinônimo de brutalidade e estupidez, embora os cérebros deles fossem pouco maiores do que os nossos.
Entre 50 mil e 80 mil anos atrás, nossos ancestrais começaram a sair da África em direção aos territórios habitados pelos neandertais, que teriam desaparecido há 24 mil anos. As últimas análises genéticas indicam que eles não se extinguiram, mas se misturaram com o Homo sapiens, deixando todos os não-africanos com uma porção de DNA neandertal.
Os pesquisadores que realizaram a análise se esquivaram de falar sobre o que isso significava para nós. “É difícil responder se somos uma espécie diferente ou uma subespécie”, disse o geneticista Richard Green, da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.Alan Templeton, biólogo da Universidade de Washington, esta última análise de DNA confirma o que se falava há tempos: que os neandertais eram parte de nossa espécie. Por anos, ele tem comparado o DNA de pessoas de todo o mundo, procurando padrões que mostrem aspectos da nossa evolução. “A ideia é de que há grupos ou raças puras não faz nenhum sentido”, disse.
Ele disse que os cientistas utilizam diferentes critérios para distinguir as espécies animais e as humanas. Por exemplo, diferentes grupos de chimpanzés são muito mais geneticamente diferentes do que os homens e os neandertais e não há nenhum problema em agrupá-los em uma única espécie.
Novas evidências mostram que eles usavam pigmentos, faziam joias e provavelmente falavam. Análises genéticas mostram que eles compartilham conosco uma versão de um gene, chamado FOXP2, crucial para o desenvolvimento da linguagem e que não está presente em outros animais.[Fonte: Jornal AN]


Cientistas questionam posição de 'Ardi' na evolução humana





No ano passado, um esqueleto fossilizado chamado "Ardi" abalou o campo da evolução humana. Agora, alguns cientistas levantam dúvidas sobre o que essa criatura da Etiópia realmente era, e em que tipo de paisagem vivia.


Divulgação
Reconstituição da possível aparência de Ardi

Novas críticas questionam se Ardi realmente pertence ao ramo humano da árvore evolutiva, e se ele realmente vivia em florestas. A segunda questão tem implicações para as teorias sobre o tipo de ambiente que desencadeou a evolução humana.


O novo trabalho aparece na revista Science, que em 2009 declarou a apresentação original do fóssil de 4,4 milhões de anos a principal descoberta do ano.

Ardi, abreviação de Ardipithecus ramidus, é um milhão de anos mais velho que o fóssil Lucy. Ano passado, foi saudado como uma janela para os primórdios da evolução humana.

Pesquisadores tinham concluído que Ardi andava ereto e não sobre os nós dos dedos das mãos, como os chimpanzés, e que vivia em florestas, não em campos gramados. Ela não se parece muito com os chimpanzés atuais, nossos parentes mais próximos ainda vivos, embora estivesse ainda mais perto que Lucy do ancestral comum entre humanos e chimpanzés.

Esses questionamentos são comuns; grandes descobertas científicas costumam ser saudadas dessa maneira. Até que mais cientistas possam estudar o fóssil, um amplo consenso sobre seu papel na evolução humana pode continuar indefinido.

A descoberta em 2003 dos pequenos "hobbits" na Indonésia, por exemplo, desencadeou um longo debate sobre eles seriam uma espéci à parte da humanidade ou não.

Tim White, um dos cientistas que descreveram Ardi no ano passado, disse que não se surpreende com o debate atual. "Era totalmente esperado", disse ele. "Sempre que se tem algo tão diferente quanto Ardi, provavelmente haverá isso".

Esteban Sarmiento, da Fundação de Evolução Humana, escreve na nova análise que não está convencido de que Ardi pertence ao ramo da árvore da vida que conduz à espécie humana.

Em vez disso, argumenta, ele pode ter vindo mais cedo, antes que o ramo humano se separasse dos ancestrais de gorilas e chimpanzés.

As características anatômicas específicas de dentes, o crânio e outras partes citadas pelos descobridores simplesmente não são indício suficiente de participação no ramo humano, diz ele. Algumas, como certas peculiaridades do pulso e da conexão da mandíbula indicam que Ardi surgiu antes que os humanos se separassem dos macacos africanos.

Em uma réplica por escrito na Science e em entrevista, White discorda de Sarmiento. "A evidência é muito clara de que no Ardipithecus há características encontradas apenas nos hominídeos posteriores e em humanos", disse ele. Se Ardi ainda fosse um ancestral dos chimpanzés, várias características teriam tido de" evoluir de volta" para uma forma mais simiesca, o que White considera "altamente improvável".

Outros especialistas, no entanto, disseram em entrevistas que acham que é muito cedo para dizer onde Ardi se encaixa.

Will Harcourt-Smith, do Museu Americano de História Natural e do Lehman College, disse que não poderia afirmar se Sarmiento está certo ou errado. "Estamos no início" da análise de Ardi, disse ele.

"Até que haja uma descrição mais completa do esqueleto, é preciso ser cauteloso ao interpretar a análise inicial de um jeito ou de outro". Mas ele disse discordar da avaliação de que Ardi seria velho demais para fazer parte do ramo humano. [Fonte: Estadão]

Estudo indica que humanos tiveram filhos com neandertais

Um estudo mostrou que todos os humanos, exceto os de ancestralidade puramente africana, tem em seu DNA uma contribuição de 1% a 4% de elementos genéticos de neandertais, indicando que as duas espécies cruzaram entre si e geraram descendentes comuns.

O estudo de quatro anos, liderado pelo instituto alemão Max Planck com colaboração de várias universidades de outros países e divulgado na publicação científica Science, desvendou o genoma, ou código genético, dos homens de Neandertal, espécie extinta há aproximadamente 29 mil anos.

As conclusões surpreenderam especialistas, já que evidências anteriores sugeriam que os neandertais não haviam contribuído para nossa herança genética.

O estudo também confirma que quase a totalidade dos humanos descende de um pequeno grupo de africanos que se espalhou pelo planeta, entre 50 e 60 mil anos atrás.

Cruzamentos

Traços da contribuição genética do neandertal foram encontrados em populações europeias, asiáticas e da Oceania.

"Eles não foram totalmente extintos, vivem um pouco em nós", disse o professor Svante Paabo do Max Planck em Leipzig.

O professor Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, disse que "o que realmente nos surpreendeu foram as evidências de que ocorreu algum tipo de cruzamento entre neandertais e humanos modernos".

Outros especialistas se disseram surpresos com a relativamente alta quantidade de material genético do neandertal (até 4%) em humanos modernos.

A pesquisa

O genoma sequenciado usou DNA dos restos de três neandertais descobertos em uma caverna na Croácia.

Um dos desafios do projeto foi extrair material genético aproveitável dos ossos, que possuíam dezenas de milhares de anos de idade.

As amostras continham pequenas quantidades de DNA de neandertais, misturados com DNA de bactérias e colônias de fungos que instalaram-se nelas ao longo dos anos.

O DNA de neandertais havia se quebrado em pequenos pedaços e modificado-se quimicamente, mas estas mudanças eram de natureza regular, o que permitiu aos pesquisadores corrigir as imperfeições por meio de programas de computador.

Teorias

A explicação mais plausível para a aproximação genética entre não africanos e neandertais é a de que houve um contato reprodutivo reduzido (ou fluxo de genes) entre as duas espécies.

Este cruzamento pode ter ocorrido quando os humanos deixavam o continente africano, talvez no norte da África ou na península arábica.

Segundo a teoria que diz que o mundo foi povoado a partir da África, o homo sapiens substituiu gradativamente as populações indígenas de outras regiões, como os neandertais.

Pesquisas anteriores indicavam a Europa como o local mais provável para as duas espécies terem se encontrado e possivelmente trocado genes.

Homo sapiens e neandertais conviveram no continente por mais de 10 mil anos. [Fonte: BBC Brasil]


Minha Despedida:

CARTA ABERTA: Venho por meio desta externar meu profundo agradecimento pela oportunidade a mim concedida de lecionar por mais de 10 anos na FGG para o curso de Pedagogia e por um determinado período no curso de Psicologia, e por poder colaborar com a ACE em reuniões, eventos e formaturas sempre que solicitado. Nesse tempo lecionei as disciplinas de Filosofia da Educação, História da Educação, Projetos Educacionais, Políticas Públicas, Formação Continuada dos Docentes, Gestão Escolar, Educação e Novas Tecnologias, Educação de Jovens e Adultos, Antropologia, Sociologia da Educação e Empreendedorismo. Reconheço que mais aprendi que ensinei. Também estendo meus agradecimentos sinceros especialmente para algumas pessoas, dentre elas destacam-se: Professora Cheila, ex-coordenadora do curso de Pedagogia, gestora competente e ética, a qual me deu a oportunidade de compor sua equipe de trabalho; Professor Petry, ex-diretor da faculdade e excelente professor de sociologia; Professor Júlio, gestor por excelência do curso de Psicologia; Agradeço a ex-secretária Jovita e a Secretária Sandra, sempre muito prestativas e educadas. Também agradeço a professora empreendedora Marília, a qual tive o privilégio de ser aluno e mais tarde colega de trabalho; E a amiga Elisabeth, ex-professora da pedagogia, sempre muito comprometida, atualmente colega de trabalho na SDR/GERED. Meu muito obrigado ao Luciano, sempre muito prestativo e excelente funcionário. Também estendo meus agradecimentos a toda equipe administrativa e corpo docente do curso de Pedagogia da FGG. Ao corpo discente desejo muito sucesso enquanto acadêmicos e acadêmicas do curso de Pedagogia, especialmente para aqueles e aquelas que por algum período tive a honra de ter como meus alunos e alunas. A vocês desejo também sucesso profissional, sempre pautado pela ética e pelo comprometimento. Lembrem-se que: “uma visão de futuro sem ação é apenas um sonho; Uma ação sem visão de futuro é apenas um passatempo; Porém, uma visão de futuro com ação planejada pode causar uma revolução pessoal e profissional positiva”. Por isso, digo a todos e a todas, mesmo para aqueles e aquelas que por alguma razão não entenderam minha proposta pedagógica de trabalho: “acredite em você, tenha pensamentos de sucesso, palavras de sucesso, ações de sucesso, hábitos de sucesso e acima de tudo caráter, e certamente o teu destino só poderá ser o sucesso pessoal e profissional”! Mais uma vez muito obrigado por tudo e que Deus nos dê sabedoria e ilumine a todos nós. Cordialmente, Professor Jorge Schemes.